“São 365 dias sem Marielle. Trezentos e sessenta e cinco dias em que a dor se tornou minha principal companhia, seguida da insistência em descobrir quem mandou matar minha esposa. Insistência, pois, garantir justiça no Brasil não é fácil. Nosso país é tomado pelo crime organizado, pelas milícias, pela corrupção, pelo alto encarceramento dos jovens negros, pelos assassinatos das LGBTs, mulheres e indígenas. Um Brasil que esconde a sua memória e tem marcas da escravidão fincadas até hoje em sua trajetória”, Monica Benicio, viúva de Marielle Franco na Revista Forum.

“Hoje milhares de pessoas gritam “Marielle vive ou Marielle Presente”. E de certa forma, esses gritos, tornaram-se um ato de resistência para todas e todos. Mas isso requer coragem. Não é qualquer pessoa que assume lados e toma para si responsabilidades de luta e militância. Pedir justiça por Marielle é como lutar por muitos grupos de minorias que ela representava arduamente em sua trajetória política e de vida. E há exatamente um ano, percebemos um movimento iniciado por essa morte trágica e covarde, que invade o peito de centenas de pessoas, principalmente mulheres, fazendo com que elas sigam muito mais fortalecidas, juntas, firmes, e ecoando uma só voz: a voz de Marielle. (…)

No meu peito hoje, eu só tenho uma opção: seguir! Seguiremos lutando. Lutando por justiça e dignidade. Não nos calaremos diante de tantas atrocidades, e não recuaremos mesmo em tempos de fascismo. Por Marielle, eu luto, tu lutas e nós lutaremos. Sigamos!”, Anielle Franco, professora, ativista e irmã de Marielle Franco na Folha de São Paulo.

“Matar uma vereadora eleita a tiros era um passo além na violência extrema de um país que convive com o genocídio dos jovens negros, que convive com o genocídio dos indígenas, como se fosse possível conviver com genocídios sem corromper além do possível o que chamamos de alma. O assassinato de Marielle era um passo além, um passo já sobre o vão do abismo, até mesmo para o Brasil. (…) Entendi então que também era um Brasil que morria com Marielle. E que daquele dia em diante entraríamos numa outra fase de nossas ruínas continentais. (…)

Estava certa porque Marielle Franco acolhia em seu corpo todas as minorias esmagadas durante 500 anos de Brasil. Seu corpo era um mostruário, uma instalação viva, da emergência dos Brasis historicamente silenciados. (…) Quando finalmente for descoberto quem mandou matar Marielle Franco – e por quê –, não será apenas um crime que vai ser elucidado. É a anatomia do Brasil atual que poderá ser desvelada em todo o seu espantoso horror. Mas os mandantes – e os motivos – só serão revelados se continuarmos a perguntar: ‘Quem mandou matar Marielle? E por quê?’ Marielle Presente!”, Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista.

CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS – Nota Pública de Homenagem a Marielle Franco e Anderson Gomes: “O Conselho Nacional de Direitos Humanos – CNDH, no dia em que se completa um ano do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes e diante da prisão dos suspeitos pela execução do bárbaro crime perpetrado, vem a público manifestar-se a respeito desse tema. Mais uma vez reiteramos nossa solidariedade aos/às familiares, amigos/as, companheiros/as de militância de Marielle e Anderson, e nosso repúdio à violência que ceifou suas vidas. Lembramos que Marielle expressou – em vida e na própria morte – a luta de mulheres, negras, LGBTIs, pobres e trabalhadoras/es – e que seu assassinato se somou aos milhares que a cada ano sacrificam em especial a juventude negra e pobre das periferias e favelas de nosso País.

Tratou-se, ainda, de um crime contra a democracia, uma vez que Marielle possuía mandato de vereadora na Câmara Municipal do município do Rio de Janeiro. A anunciada prisão dos suspeitos pela execução do crime que abalou o povo brasileiro pode ser uma notícia importante, mas não põe um ponto final na luta que há um ano tem animado milhões de pessoas no Brasil e no mundo, nas ruas e nas redes sociais: quem matou e quem mandou matar Marielle? (…) O conselho conclama toda a sociedade brasileira a promover e a proteger a atuação dos direitos humanos e aos órgãos do Estado brasileiro a implantarem e fortalecerem os programas e políticas de direitos humanos em homenagem à memória de Marielle Franco e Anderson Gomes e pelo respeito à dignidade da vida e da pessoa humana.”

para saber mais:
Movimento Sem Terra: Por justiça a Marielle e aos mortos da Mineração, Mulheres paralisam o trem da Vale em Minas Gerais
Deutsche Welle: A postura do clã Bolsonaro no caso Marielle
David Miranda: Who ordered Marielle Franco’s murder?

Fotos: Movimento Sem Terra e Mídia Ninja
#14M, #quemmandoumatarmarielleeanderson

 

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