Um trabalhador de aplicativo morto durante um assalto a seu veículo; um adolescente executado dentro de casa, na frente da sua mãe e irmãos mais novos; uma criança de cinco anos vítima de “bala perdida” enquanto brincava em seu lar, no Rio de Janeiro; um segurança morto enquanto voltava do trabalho na zona leste de São Paulo; policiais e jovens assassinados no litoral de São Paulo; inúmeras execuções em nome da guerra às drogas e entre facções na Bahia. Estes e outros casos de violência são unidos por um ponto em comum: as armas de fogo.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, a cada quatro mortes violentas no país, três são causadas por armas de fogo. Em 2022, foram extintas 47502 vidas por mortes violentas intencionais; destas, 91,4% eram do sexo masculino, 76,9% negras e 50,2% com idade entre 12 e 29 anos, o que totaliza 36340 pessoas assassinadas, considerando recortes raciais, de gênero e idade.
O mesmo estudo também aponta que a Amazônia Legal (termo que contempla todos os países da América do Sul que tem a floresta amazônica) teve um aumento de 54% das mortes violentas intencionais, fato esse relacionado diretamente ao aumento da circulação de armas na região. Segundo o Instituto Igarapé, entre 2018 e 2021, enquanto o registro de armas por pessoas físicas no Brasil cresceu 130,4%, o crescimento na Amazônia Legal foi de 219%; em 2018 havia 57377 armas registradas e, em 2021, foram registradas 184181 armas.
Otimistas ou cínicos, os elaboradores do Anuário descrevem que 937 vidas foram “poupadas”, número insignificante quando consideramos que diariamente morreram 100 pessoas no Brasil.
O Cedeca Sapopemba e a Plataforma Brasil de Terre des Hommes, diante disso, afirmam que a proliferação das armas de fogo no país e seu uso indiscriminado, indiferente das mãos em que estejam, geram prejuízos irreparáveis na sociedade, levando em conta a violência em si, a falta de controle, investigação e pesquisas comprometidas com os fatos. Acompanhadas de perto pelas instituições, as vítimas estão nas fronteiras e periferias e motivam o debate emergencial do tema.
Neste seminário, a sociedade civil, organizações, pesquisadores, especialistas e parlamentares direcionam, porta seus olhares para as armas de fogo. Como são usadas? Quais são seus itinerários? Outros países se beneficiam com a morte da nossa população? Quais os desafios e perspectivas para crianças, adolescentes, jovens e famílias das periferias brasileiras? Vivemos um conflito armado no Brasil? Estes e outros questionamentos serão feitos e, com a contribuição de todos, talvez respondidos na busca por soluções efetivas.
Raifa Monteiro e Sidnei Ferreira
Cedeca Sapopemba | Outubro/2023