Que melhor maneira de conhecer a realidade de um território, de um país, do que ser capaz de ouvir e entender aqueles que estão neste espaço diariamente, aqueles que têm que lutar ou aproveitar o que está acontecendo ao seu redor no dia-a-dia. Por esta razão, e em vista das eleições que estão prontas para o segundo turno no Brasil, com uma alta polarização política e com dois candidatos que representam extremos que não poderiam ser mais opostos um ao outro, nós abordamos jovens de nossa rede no Brasil e também alguém de nossa plataforma para nos dar um contexto e suas expectativas para o Brasil do futuro.
Para entender a importância destas eleições para seu país, queremos saber qual é sua impressão sobre o momento atual no Brasil. O que mais afetou você nos últimos anos, seja positivo ou negativo, em relação às ações do atual governo? 2. Você e sua comunidade foram diretamente afetados (positiva ou negativamente) pelas políticas do atual governo? 3) Quais são as principais necessidades que devem ser atendidas e que recomendações de sua posição como jovem você faria ao novo governo? 4 – Quais são seus sonhos para seu país e sua comunidade nos próximos anos? Mas primeiro nosso parceiro de plataforma nos dá algum contexto, que apresentamos a seguir.
“Estamos vivendo no Brasil, um momento extremamente difícil e decisivo, creio que estamos vivendo o pior momento da história desde a redemocratização, desde o fim da ditadura, com um governo avaliado de forma muito ruim pela maioria dos brasileiros, mas mesmo assim ainda tem uma parcela da população que seguem apoiando. Para nos foi um governo da morte, que durante o período da pandemia, se recusou a comprar vacina, zombou da gravidade da COVID, tratava como uma pequena gripe, se recusou a fornecer informações sobre o número de mortos, tanto que a imprensa se organizou em um consórcio para passar para as pessoas o número de mortos diários, se recusou a apoiar o locdow com a justificativa do impacto econômico, enfim chegamos a quase 700.000 mortos. Ao mesmo tempo agora durante o período eleitoral fez ressurgir pautas morais, com claro ataque aos direitos humanos e aos defensores de direitos humanos, continua atacando os grupos minoritários que na verdade são a maioria da população( negros, mulheres, LGBTQI+, indigenas e nordestinos), com forte apoio das Igrejas evangélicas neopentecostais, com forte discurso que as Igrejas serão fechadas, é um presidente que mente o tempo todo, que se utiliza de fake news, com assuntos absurdos, que são claramente fáceis de serem desmentidadas, mas que ele tem uma forte inserção na mídia.
A população mais pobre, com a qual é a população que trabalhamos foi a que mais foi atingida com as políticas do atual governo, o Brasil voltou ao mapa da fome, temos mais de 33 milhões de pessoas passando fome em nosso país. O ódio a população pobre aumentou, estamos chamando de aprobofobia(que é o ódio aos pobres), o feminicídio aumentou, dizemos que o presidente tem responsabilidade pois tem um discurso claramente machista, que acabam incentivando a agressão as mulheres, gerando o assassinato das mesmas. O último episódio, em um vídeo que diz “que pintou um clima” com as meninas venezuelanas de 14, 15 anos, insinuando que existia situação de prostituição. Aqui no Brasil “pintou um clima”, tem conotação sexual.
Se conseguirmos alterar o governo no próximo dia 30, creio que as dificuldades vão ser imensas para reconstruir o país, mas o mais imediato é a questão da segurança alimentar, a questão da saúde, por essa questão de desinformação, as pessoas estão se recusando a vacinar seus filhos, temos de volta ao nosso país a poliomelite que havia sido erradicada há 28 anos.
Temos a esperança, que consigamos minimizar o sofrimento da população mais pobre e que os defensores de direitos humanos, sejam respeitados. Que não tenhamos medo de sermos agredidos, por sermos mulheres, negros, negras, LGBTQI+, indigenas, moradores em situação de rua. Que a pauta moral fique dentro das Igrejas que não interfira nos espaços politicos.” Neia Bueno
Agora a juventude.
Jade Lopes Gomes, 25 años
- A situação política que vivemos no país desde o golpe que depôs a presidenta Dilma tem piorado muito. Com a eleição de Bolsonaro em 2018, a democracia brasileira está mais sensível ainda. Um presidente que fala sobre armamento da população, que é contra pobres, negros, mulheres, LGBTQIA+… a violência, ao sair da boca e das ações do próprio presidente da aval para a população agir dessa maneira também. Aumentando o número de casos de violência contra as minorias. A pandemia, com 700 mil mortos e o presidente sendo contra a vacina e o distanciamento social, fazendo piadas das pessoas que estavam morrendo sem oxigênio. As vezes eu sinto que é um pesadelo essa ser a pessoa que está a frente do meu país.
- Pude sentir o impacto pela violência na rua contra população lgbtqia+, vivenciando e ouvindo sobre casos e mais situações de violência que antes. Também em relação à política de preços de alimentos naturais, o pacote do veneno que foi aceito pelo governo, autorizando o uso de vários agrotóxicos nas colheitas brasileiras. Isso levou famílias a consumirem alimentos com muito agrotóxico e também produtos super industrializados, que tornaram-se mais baratos que os alimentos “de verdade”. Esses são alguns exemplos.
- Gostaria que, com a eleição do Presidente Lula, haja orçamento público para projetos de inclusão social, trabalho e renda para juventude. Além de uma proposta de governo que garanta a segurança e os direitos das crianças, prevenção de violência e projeto de educação pública de qualidade. E também que haja a responsabilização do antigo presidente (Bolsonaro) pelas barbaridades e crimes que cometeu enquanto governou o país.
- Sonho em crianças, adolescentes e jovens terem seus direitos respeitados, que elas possam se alimentar com qualidade, que volte a ter programa de alimentação escolar orgânica produzida por pequenos produtores como havia no governo Lula e Dilma. Gostaria que reduzissem/acabassem os casos de violência sexual infantil, que meninas e meninos tivessem igualdade de oportunidades e que as crianças possam sonhar e crescer em um Brasil mais parecido com o que eu cresci, que era uma pais com mais esperança e possibilidade de ser feliz. Que os dias dos próximos anos sejam mais felizes, alegres e que não tenhamos que explicar o porque a vida das pessoas são importantes. Que haja menos armas e mais educação. Que tenha menos mortes e mais pessoas pobres pretas e perifericas entrando na universidade pública. Que haja maior incentivo à cultura e que os direitos humanos sejam respeitados.
Maria Eduarda Pimentão (apellido “Duda”), 20 años:
- Há um retrocesso governamental nesses últimos anos, percebo como as pessoas atendidas pelos projetos por exemplo, buscaram mais ajuda nesse tempo. Muitas crianças tendo que trabalhar nas ruas para ajudar em casa. Miséria, fome… aqui onde vivo a situação é triste e vem piorando desde a pandemia. Violencia extrema, este governo é completamente violento.
- Sim, vejo muitos jovens sem perspectivas de futuro, este não é um governo que investiu na educação. Eles estão tirando o pouco que os pobres tinham acesso. Não há políticas que pensam na segurança, bem estar, saúde da população periférica. Tudo é negligenciado.
- Gostaria de ver (em uma realidade perfeita)o atual, que logo será ex, presidente pagando por tudo que fez. Ou pelo menos respondendo suas ações com honestidade. Precisamos para o futuro , projetos que pensem na população pobre, preta, periférica. Que como nós, defenda os direitos das crianças, o direito ao estudo, a literatura, ao lazer, a saúde.
- Que nosso país saia do mapa do fome, que tenhamos condições de ter todas as refeições, todos os dias. Quero ver meus amigos, as crianças aqui da favela, que frequentam a biblioteca, as atividades, ocupando espaços que lhe são negados. Que o Eca seja respeitado. Sonho em poder viver em uma comunidade não violenta, sem preconceitos.Com governantes que representem o povo.