Fazendo música e arte por respeito, diversidade e igualdade, crianças, adolescentes, famílias e organizações da sociedade civil – dentre elas CEDECA Sapopemba, CEDECA Limeira, PMMR, Ação Educativa, ADESM e Solano Trindade, que integram a Plataforma Brasil de terre des hommes – tomaram conta das ruas de Sapopemba da última sexta-feira (05/10), com o Bloco EURECA (Eu respeito o Estatuto da Criança e do Adolescente). Cerca de 500 pessoas participantes, desde a concentração, passando pelo desfile e chegando no Sarau, no qual diversas expressões artísticas, fruto de oficinas socioculturais, foram apresentadas.

Contudo, clima de tensão e apreensão puderam ser sentidos no desfile. Receio de sair às ruas e falta de apoio estratégico das forças de segurança pública, algo comum em anos anteriores, deixaram o desfile menor que em edições passadas. A data do desfile, sexta-feira, 5 de outubro, foi um tanto emblemática. Nesse dia, a Constituição Federal do Brasil completou 30 anos. E, também essa sexta-feira, compreendeu o último dia útil antes das eleições para os poderes Executivo (cargos de presidente e governados) e Legislativo (cargos de deputado federal, distrital, estadual e senador), as mais acirradas e polarizadas da democracia brasileira.

Tamanha tensão era reflexo, pois, da profunda polarização do campo político que marcou toda a campanha para as eleições do dia 7 de outubro. A polarização é clara. De um lado, a direita conservadora representada por um militar reformado, candidato ultraliberal conservador (Jair Bolsonaro), contra quem milhares de mulheres saíram às ruas no dia 29/09 para pedir #elenão, por força de seu posicionamento contrário aos direitos das mulheres, LGBTQI+. Do outro, a esquerda representada pelo candidato do Partido dos Trabalhadores (Fernando Haddad), que ascendeu à cabeça de chapa, por indeferimento da candidatura do ex-presidente Lula, preso há 6 meses no âmbito da Operação Lava a Jato, através de condenação controversa e internacionalmente contestada, pois atropelou princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito.

Cenário de retrocesso de direitos

Tal polarização restou evidente nas eleições de domingo, ocasião em que todo o país foi às urnas para eleger representantes do Executivo e Legislativo. Preocupante o resultado da corrida presidencial, haja vista a direita conservadora ter avançado e chegado ao segundo turno com 46,03% dos votos válidos.

Por mais que haja segundo turno, a população e a democracia brasileira já perderam: ódio e intolerância mostraram-se vitoriosos no final de domingo de eleições. Ódio e intolerância voltados às mulheres, à comunidade LGBTQI+, aos negros, aos quilombolas, aos direitos conquistados, à democracia brasileira. Emblemático exemplo disso, foi o assassinato de Mestre Moa, pacífico homem de 63 anos referência da cultura afro-brasileira, precisamente em uma prática símbolo de resistência: a capoeira. O que motivou o assassinato: Moa, que havia declarado apoio ao Partido dos Trabalhadores, foi assassinado por um apoiador do candidato de extrema direita.

Incontáveis são os desafios para o futuro da democracia brasileira, especialmente no que diz respeito a crianças e adolescentes. Contudo, é com militância e ação que se deve estar pronto. Nesse sentido, o apelo do samba enredo do Bloco EURECA “Diversidade, Respeito e Igualdade” assume relevância ímpar:

“Quando meu bloco chegar vem meu povo cantar liberdade expressar
Seu julgamento para mim não é sentença
Eu exalto o valor do meu gênero e cor
Me ensinaram que esse estado é de direito
Sendo assim eu não lhe peço
Eu exijo seu respeito!

Brasil terra da diversidade, das cores do sincretismo
E de quem mais quiser somar
O próprio samba é o retrato da mistura
Da perifa, da cultura, do terreiro e do altar
A violência a quem ama diferente fere e mata muita gente
Isso tem que acabar
Não tem remédio para o que não é doença
E viva a diversidade Bloco Eureca vem cantar”

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