Entre os dias 23 e 26 de julho estão reunidos, em Brasília, cerca de 1500 crianças de assentamentos e acampamentos do Movimento Nacional dos Trabalhadores sem Terra – MST. Trata-se do primeiro encontro nacional de crianças do MST, mas é certo que desde 1993 são realizados encontros regionais, em cujo processo de preparação crianças assumem a liderança e participam ativamente.

Com uma carta crítica e corajosa que aborda temáticas sensíveis como sistemas de produção e consumo, o papel do agronegócio e economia sustentável, as crianças sem terrinha dão o tom ao encontro: “saco vazio não pára em pé”, fazendo alusão ao ditado popular conhecido na cultura popular brasileira. No centro da carta está a necessidade de uma reforma agrária popular, alimentação saudável e a importância da agroecologia.

Politicamente, o acesso a uma alimentação adequada possibilita que as pessoas pensem e questionem as desigualdades sociais (a existência de pessoas muito ricas e de pessoas muito pobres)! Que as pessoas sejam capazes de se organizar e participar ativamente das lutas por uma sociedade mais justa, com igualdade e liberdade. Lembre-se: “Saco vazio não para em pé”. Se não para em pé, como vai lutar?

(trecho do Texto sobre Reforma Agrária Popular e Alimentação Saudável, que integra a cartilha do encontro)

A coragem dessa luta camponesa vem em um bom momento na conjuntura nacional. Vem mostrar que a militância do campo também é marcada por crianças e que, essas, contam com contribuições de extrema importância para qualquer reflexão sobre os caminhos que se pretende tomar. A temática do encontro foi “direito à educação e o direito à alimentação saudável”, desde a lógica do campo, que marca a vida dessas crianças organizadas e militantes desde o nascimento.

Na lógica de somar e contribuir com esse processo participativo e coletivo, a Plataforma Brasil e a Rede de Jovens de terre des hommes Alemanha (em especial as organizações parceiras de tdh-A: CEDECA Sapopemba, Ação Educativa e PMMR) estão muito bem representadas a partir das oficinas do Bloco EURECA e do futebol de rua.

Durante a oficina de futebol de rua ficou claro que é possível discutir alimentação junto ao esporte e os nomes dos times são exemplificativos nesse sentido: Time Kiwi, Time Abacaxi, Time Maçã e Time Coentro. Assim, times com nomes diferenciados em temas relacionados à alimentação saudável e à reivindicação da proibição com o uso de agrotóxicos nos alimentos. No terceiro tempo, ainda que tivesse sido a primeira experiência com a metodologia callejera, os times discutiram muito bem e foi unânime o ponto de solidariedade “Porque quando [ele] caiu, todo mundo ajudou!”

Por outro lado a oficina do Bloco EURECA propôs uma reflexão sobre o agronegócio e desconstruiu o imaginário sobre o tema, afinal “agro não é tec, nem é pop, ele é do mal”. Após uma oficina com discussão e elaboração de produtos sobre as discussões, foi escrito o samba-enredo e a música:

Bloco Sem terrinha.
Tema: Saco vazio não para em pé
Lema: Sem terrinha lutando pela alimentação saudável.

Enredo:

Nós somos sem terrinha
Futuro da nação
Na luta pela qualidade
Da nossa alimentação

Sou filho de Maria
Sou filho de José
E vim aqui falar
Que saco vazio não para em pé

Veneno não queremos
Isso nos faz mal
O AGRO não é TEC, nem é POP
Ele é do mal

Sem terrinha em movimento
Brincar, sorrir, lutar
Porque o que queremos
É a reforma agrária popular

Em um dos dias do encontro, as crianças saíram em caminhada até o Ministério da Educação onde protestaram contra o fechamento de escolas – uma das medidas de corte de gastos proposta pelo governo Temer. Com faixas produzidas por elas/es, o ato encheu a Esplanada dos Ministérios de crianças preocupadas com seu presente, mas também com seu futuro.
No fim do encontro, todas/os participantes do futebol de rua ganharam medalhas produzidas a partir de materiais recicláveis e o Bloco EURECA tomou o palco da noite cultural para apresentar o produto dos dois dias de oficina, construído coletivamente.
Fica claro, assim, que a infância está e deve estar presente em todas as lutas e que sua voz entoa forte e há de ser ouvida.

Para saber mais:
Manifesto das Criança Sem Terrinha
Página Internet do Encontro 
Sem Terrinha afirma compromisso na luta pelos direitos da criança

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