“Luis Ignacio Lula da Silva ganó las elecciones brasileñas en 2006 con 58,3 millones de votos. Había batido el récord. Fue la mayor votación de todos los presidentes de la historia democrática de Brasil. Al acabar su legislatura abandonó Brasilia con una popularidad de 87%. Otro récord. Doce años después, Jair Bolsonaro, al que muchos denominan el anti-Lula, acaba de ganar las elecciones con 57,7 millones. ¿Qué ha sucedido? ¿Es el mismo Brasil el que ha consagrado en un periodo histórico tan corto a dos presidentes tan diferentes?”

Essas são perguntas formuladas por Esther Solano Gallego, cientista social e professora da Universidade Federal de São Paulo. Ela mesma formula parte das respostas em seu artigo ‘De Lula a Bolsonaro’. Neste post recorremos também às reflexões de outro cientista social, Boaventura de Sousa Santos. As duas análises oferecem pistas para compreender o resultado das eleições brasileiras e abrem o horizonte para analisar o que elas implicam para o contexto regional latinoamericano e global.

 

Boaventura de Sousa Santos: A sociedade brasileira é uma sociedade que apresenta uma combinação tóxica de três tradições de desigualdade e discriminação: capitalismo, colonialismo e hetero-patriarcado.

O que significa a vitória de Bolsonaro?

Boaventura de Sousa Santos: Significa a prova cabal de que o sistema político brasileiro precisa ser profundamente reformado. Tal como está: transforma o compadrio, a corrupção, as alianças perigosas, a incoerência política e a confusão ideológica em condições incontornáveis de governabilidade; promove o isolamento das elites partidárias em relação às privações e aspirações das grandes maiorias sobretudo das mais pobres ou mais vulneráveis à discriminação e à violência; não permite que os três órgãos de soberania (Executivo, Legislativo e Judiciário) exerçam os seus poderes com contenção, ou seja, sem violarem gravemente as competências de uns de outros.

Essa escolha diz o que sobre a sociedade brasileira? E sobre os partidos políticos que se apresentam hoje?

BSS: Diz que a sociedade brasileira é uma sociedade que apresenta uma combinação tóxica de três tradições de desigualdade e discriminação: capitalismo, colonialismo e hetero-patriarcado. A história continua a pesar demasiado para o Brasil poder deixar de ser o eterno país do futuro. E depois destas eleições o futuro ficou ainda um pouco mais distante do presente. Mas as últimas semanas também mostraram que os democratas brasileiros têm mais apego à democracia do que o registado pelo Latinobarómetro. O medo não matou a esperança.

Como o campo progressista brasileiro pode se organizar para que um novo paradigma de senso comum crítico e racional permeie o processo decisório popular brasileiro?

BSS: O Brasil é hoje um laboratório de significado mundial. Está a mostrar que a democracia liberal representativa não se sabe defender dos antidemocratas. Para se defender tem de se articular com a democracia participativa. Para isso o campo progressista tem de voltar aos territórios onde gente digna sobrevive em condições indignas. Tem de abandonar a obsessão das reuniões secretas e de linguagem altamente codificada que só converte os convertidos. Têm de estudar as estratégias das igrejas neopentecostais para aprender o que se deve e o que não se deve fazer. E tem sobretudo de recuperar a memória dos círculos de cultura e das comunidades eclesiais de base.

A atmosfera social brasileira durante o processo eleitoral deflagrou episódios de violência motivados e potencializados pelo discurso de intolerância. […] Como a sociedade brasileira pode estabelecer limites às ondas de intolerância?

BSS: A tolerância é um termo pernicioso apesar de popular. A gente só tolera o intolerável, aquilo com que nada partilhamos nem com que nos podemos enriquecer. O problema é outro, é o da cultura de convivência democrática com a diferença política, social, cultural e comportamental. O problema é o reconhecimento do direito mais fundamental: o direito a ser iguais quando a diferença nos inferioriza e o direito a ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza.

Tentando fazer uma distinção entre os erros das partes, na opinião do senhor, quais foram os principais equívocos do PT e quais foram os de Fernando Haddad nessa eleição?

BSS: O maior erro do PT foi ter subestimado a eficácia da demonização do petismo. Eu compreendo o erro. Um partido que sempre governou com a direita dificilmente poderia imaginar que pudesse ser identificado com o “perigo comunista”. O PT apenas valorizou que Lula da Silva era o candidato mais popular nas sondagens. Negligenciou que logo abaixo dele estava Bolsonaro, a versão mais primária e visceral do ódio ao PT tão laboriosamente construído pela Globo.

Fonte

 

Esther Solano Gallego: Existe una cuestión social muy nítida en un país tan desigual como Brasil y sin la cual no podemos entender prácticamente nada: el desprecio por el pobre

“El antipetismo tiene un último factor explicativo, una de las herencias más terribles que Brasil carga sobre sus hombros, la desigualdad. La mayoría de los votantes de Bolsonaro son de clase media y alta. Bolsonaro obtuvo hasta 75% de los votos en los municipios brasileños con renda media y alta, pero no llegó ni al 25% en las localidades más pobres, que permanecieron fieles al PT. Fernando Haddad prevaleció en 9 de los 10 municipios más pobres. La diferencia de voto definida por la clase económica se repite cuando nos fijamos en el marcador racial. En 9 de cada 10 ciudades con mayoría blanca ganó Bolsonaro. En 7 de cada 10 con mayoría no blanca ganó Haddad.

Existe una cuestión social muy nítida en un país tan desigual como Brasil y sin la cual no podemos entender prácticamente nada: el desprecio por el pobre. La marca por la que todo el mundo reconoce los gobiernos petistas fueron las políticas públicas de complementación de renta, como la famosa Bolsa Familia, y las acciones afirmativas, que permitieron que más de 30 millones de brasileños salieran de la miseria, compraran una lavadora, un frigorífico e incluso tuvieran la osadía de frecuentar centros comerciales, aeropuertos y universidades, los lugares que los habitantes de las periferias y favelas nunca habían ocupado. El porcentaje de negros en las universidades federales, que forman gran parte de la élite del país, dobló de 5,5% en 2005 a 12,8% en 2015, gracias a los programas de cuotas raciales en la enseñanza superior pública. Las clases medias no perdonaron. […]

La misma clase media y alta que había votado a Lula porque pensaba que podría mejorar el país, se dio cuenta de que las políticas de ascensión social para los más pobres iban en serio y les estaban haciendo perder su clásico lugar de privilegio. En tiempos de crisis económica, cuando el tamaño del pastel se hace cada vez menor, el resentimiento de clase surge a raudales. Lo más curioso de todo es que aquellos que habían sido beneficiados por las políticas petistas y consiguieron mejorar de vida hasta llegar a integrar las llamadas nuevas clases medias, adoptaron el mismo discurso de las clases medias tradicionales. El Partido de los Trabajadores esperaba de ellos fidelidad. No la obtuvo. El PT pasó a ser el partido de los pobres que gobernaba contra las clases medias. El PT pasó a ser el partido de los negros que gobernaba contra los blancos. Tal vez el sentimiento de clase fue el verdadero vencedor de las elecciones”.

Fuente
Charge de Jota Camelo
Para saber más: Esther Solano Gallego – Entendendo o Brasil atual

Foto: Ricardo Stuckert

Deja un comentario

Tu dirección de correo electrónico no será publicada. Los campos obligatorios están marcados con *